segunda-feira, 24 de maio de 2010

Meu maracatu não pesa uma tonelada


Tambores ecoam uníssonos. A sinfonia das alfaias estremece as ondas sonoras que captam o ritmo no ar desconcertado. É maracatu. A ginga de sangue africano que desde a colônia portuguesa abrilhanta a musicalidade pernambucana. Passou uns tempos à surdina, quase morta, mas revivificou mais forte com o Manguebeat, alcançando continentes diversos antigamente intangíveis.


Morreu Chico, ficou a Nação Zumbi. Permaneceram inúmeras outras nações, baques soltos e virados, novos e velhos caboclos. Mas nos questionamos: o maracatu tem o espaço merecido na cultura regional? Será que as poucas apresentações durante o ano, principalmente na época carnavalesca, fazem jus à relevância do movimento para o país?

País esse, o do futuro, que parece tapar ou jogar fora suas raízes, plantando apenas o importado em latas. Não é de hoje que o Brasil desmerece figuras e fenômenos culturais cuja importância para a história e o entendimento do nosso povo é imprescindível. E a praga, infelizmente, espalhou-se até o nosso estado. Pernambuco simplesmente fecha os olhos – e ouvidos – para a genuína produção cultural da terra.


Cinema, teatro, artes plásticas, música; Recife é um efervescente pólo de diversificação de ideias e projetos. Comparando há algum tempo, a difusão de cultura na capital e por todo o estado é extremamente positiva, mas não suficiente. Indispensável analogia: a Bahia exporta o Axé. Ouvem muita coisa de fora, é claro, mas não relegam seus cantores e bandas a segundo plano.

Nosso estado faz isso. O maracatu, o frevo, a ciranda, todos os gêneros populares chegam (quando chegam) inadequadamente a quem interessa: o público. Não é uma mera questão de mercantilizar e transformar uma tradição ancestral em algo pop. Trata-se de expor, de reconhecer, conhecer e ter orgulho do que é feito por aqui, por nós mesmos. Talvez um dia, então, as cores dos caboclos de lança resplandeçam como devem ser: sem limites.


por Alexandre Cunha (texto opinativo - Jornal e Novas Tecnologias)

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